Travessia do Caparaó (ES – MG)
Relato da Travessia do Caparaó realizada em 3 dias, com início na portaria de Pedra Menina-ES e fim na portaria de Alto Caparaó-MG. De grau moderado e relativamente bem demarcada, não oferece muitas dificuldades quanto a orientação, com exceção da trilha que leva ao Pico do Cristal.
Local: Parque Nacional do Caparaó
Data: Julho/2015
Percurso: Portaria Pedra Menina/ES à Portaria Alto Caparaó/MG
Distância:31 Km
Tempo: 3 dias
Participantes: Keila Beckman, Andreina dos Santos, Tiago Louback Ivanildo Mendonça
Grau de dificuldade: Moderado
1° Dia: Portaria Pedra Menina – Casa Queimada
O encontro do grupo se deu na cidade de Alto Caparaó/MG, na Pousada do Ruy, onde pernoitamos.
Iniciamos o primeiro dia na travessia do Caparaó por volta das 11:30, seguindo sempre subindo por uma estrada de paralelepípedos que se alternava com trechos de terra batida.
Apesar da caminhada do dia ser feita só em estrada – não oferecendo qualquer dificuldade de navegação – o visual que se apresenta aos nossos olhos é estonteante. Quanto mais se sobe mais linda a paisagem fica e ainda pode-se desviar do caminho cerca de 5 minutos para conhecer a linda Cachoeira da Farofa (há placa no caminho), local onde fizemos a nossa pausa para o almoço.
Da Portaria de Pedra Menina até o camping Casa Queimada são aproximadamente 10 Km, praticamente só de subidas, os quais levamos cerca de 5h30min para percorrer, fazendo muitas pausas, chegando as 17:00 hs.
O camping conta com uma boa estrutura com banheiros, chuveiros de água fria (não há energia elétrica/solar) e pias para lavar as louças. Tudo muito bem cuidado pelos guarda-parques, que, na minha humilde opinião, deveriam despender o mesmo empenho no controle das pessoas que visitam o local.
A noite no camping seria bem estressante, por conta de toda a gritaria dos que lá estavam e tantos rádios ligados ao mesmo tempo, mas acabou sendo uma noite muito agradável, de muitas risadas. Ivan, Tiago e Andreina, sempre de bom humor, me fizeram esquecer toda aquela zona do camping.
Diante de tanta bagunça, e já prevendo o que encontraríamos no Terreirão (área de camping do segundo dia) decidimos que acamparíamos no Pico do Cristal, no dia seguinte, e subiríamos o Pico da Bandeira apenas na madrugada do terceiro dia, de mochila mesmo.
Planos modificados, preparamos nosso jantar fizemos um beijinho de colher, conversamos por um bom tempo e logo nos recolhemos às nossas barracas. Foi uma noite bem fria (cerca de 6 graus) e barulhenta.
2° Dia: Casa Queimada – Pico do Cristal
Apesar de ser proibido acampar fora das áreas de camping oficiais do Parque (Macieira, Casa Queimada, Terreirão e Tronqueira), nós decidimos que acamparíamos, neste dia, no Pico do Cristal, pois não éramos obrigados a ter que aguentar a desordem que o Parque não consegue controlar.
A trilha do segundo dia da travessia do Caparaó inicia-se nos “fundos” do camping e segue bem demarcada por todo o percurso, tanto no traçado no chão como por totens e algumas pinturas nas pedras. Porém, para os que desejam ir até o Pico do Cristal, como nós fizemos, aconselho tomar um pouco mais de cuidado pois a trilha no chão é bem fechada e nas lajes de pedra existem totens por todos os lados, o que dificulta a navegação.
Não tivemos dificuldade em encontrar o ponto inicial da trilha que leva ao Pico do Cristal pois estávamos com GPS, porém não encontramos logo de cara a área de camping que o amigo Samuel Oscar nos indicou lá na base do Cristal. Mas bastou seguir os totens, sempre descendo e lá estava ela, bem aos pés do Pico.
Montamos as barracas, comemos um pouco e depois subimos o Pico do Cristal para assistir ao pôs do sol (também indicação do Samuca). Na subida ao Pico do Cristal nos deparamos com outras áreas que também dão para acampar (mais expostas ao vento) e no próprio cume também existia uma área (muito exposta ao vento).
Olhando lá de baixo parece uma subida difícil, porque é muito inclinado, mas até que foi fácil. Quem tem medo de altura certamente vai passar maus bocados porque tem áreas muito expostas a altura, mas é só ir com cuidado que tudo correrá bem. E valeu muito a pena. Foi um lindo pôr do sol. Visão de 360 graus e ao infinito.
Fiquei com um pouco de receio de descer essa piramba no escuro, porque a nossa ideia era assistir ao pôr do sol lá de cima, mas acabou que, apesar da escuridão, descer foi mais tranquilo que subir.
Depois de umas perdidinhas já lá embaixo, onde o GPS nos salvou, finalmente chegamos as nossas barracas. Comemos e capotamos.
Esperávamos um frio de temperatura negativa, como é de costume por lá, mas não passou de 6 graus. No silêncio da noite ouvimos passos próximos as nossas barracas (parecia um animal grande) e, bem longe, ecoavam os sons vindos da bagunça do camping Casa Queimada.
ATENÇÃO: Nós acampamos no Pico do Cristal porque não queríamos enfrentar no Terreirão (área de camping oficial do Parque) a mesma bagunça que enfrentamos na Casa Queimada, mas hoje, com mais experiência, e mais instruída, me envergonho desse ato. Não faça isso!! Não siga nosso mal exemplo!! Respeite as regras do Parque!! A proibição sempre tem um porquê. Então, ao invés de fazer coisa errada, como nós fizemos, planete a sua travessia de forma a cumprir todas as regras, e cobre do Parque uma providência quanto ao barulho dos outros visitantes (16/07/2023)
3° Dia: Pico do Cristal – Portaria Alto Caparaó
Enquanto arrumávamos as mochilas já ouvíamos a gritaria do povo que subia da Casa Queimada. E quando encontramos com eles pelo caminho ficamos surpresos com tanta gente. Fileirinhas e mais fileirinhas de lanternas subindo a montanha na escuridão da madrugada, Todos por um objetivo comum, mas nem todos com a mesma filosofia.
Chegamos ao cume do Pico da Bandeira por volta das 5:00 da manhã – num frio de 9 graus, porém com sensação térmica beirando a zero – e lá nos apertamos em meio a centenas de pessoas que se amontoavam feito formiguinhas. E que formiguinhas barulhentas. Jesus amado.
Posso ter ficado revoltada por toda a zona do cume do Bandeira, mas tenho que procurar pensar como a Andreina – ver o lado bom das coisas.
Todas aquelas pessoas poderiam estar na casa delas, numa caminha quentinha, dormindo, mas preferiram, por algum motivo especial subir aquela montanha (e não podemos desdenhar dos motivos particulares de ninguém). Antes uma pessoa a mais na montanha, que uma pessoa a mais na cama ou no sofá.
Mas, por outro lado, enquanto essas pessoas não souberem respeitar a montanha, eu serei egoísta e preferirei que elas fiquem em suas camas e sofás. Foi uma tristeza enorme ver todo o lixo que eles deixaram por lá quando começaram a partir.
Bom, mas vamos parar de falar de coisas ruins e vamos voltar as coisas boas que foram infinitamente maiores: o nascer do sol no Bandeira. Ahhh, como foi lindo. Toda a cadeia de montanhas do Caparaó se tingia de laranja enquanto o sol ia dando o ar de sua graça.
Depois de apreciar muito o nascer do sol e toda a paisagem grandiosa que se apresentou aos nossos olhos, iniciamos a nossa descida até a Portaria de Alto Caparaó/MG.
No caminho passamos pelo Camping Terreirão, onde fizemos uma pausa para um lanche e conhecemos a tão famosa Casa de Pedra.
Continuando a nossa descida, por trilha sempre bem demarcada, chegamos a Tronqueira – local onde as pessoas normalmente pegam um transporte até a cidade – descansamos cerca de 15 minutos e partimos para os 6 Km finais da travessia do Caparaó. E que 6 Km dolorosos e intermináveis. Descidas, descidas e mais descidas.
A essa hora os joelhos já reclamavam, e, em certos momentos tivemos que começar a andar de costas para aliviar as dores.
Realmente isso não foi uma brincadeira – andar de costas. Todos estavam com os joelhos arregaçados. Foi a única maneira de conseguir prosseguir com a caminhada, com um pouco mais de conforto.
E nós prosseguimos, mesmo com os joelhos doendo, e concluímos a linda travessia do Caparaó.
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