Circuito Ausangate via Vinicunca
Relato do Circuito Ausangate via Vinicunca, realizado em 10 dias, com início e fim no povoado de Tinki, localizado no distrito Ocongate, província de Quispicanchi, em Cusco, Peru. De grau muito difícil, a trilha oferece dificuldade quanto a orientação e está sujeita a mudanças climáticas bruscas.
Local: Cordilheira Vilcanota – Tinki – Peru
Data: Agosto/2016
Percurso: Tinki – Upis Thermas – Jatum Pucacocha – Anantapata – Vinicunca – Quesiunio – Ausangatecocha – Pampacancha – Huchuy Finaya – Ac. Jampa – Pachanta – Tinki
Distância: 97 Km
Tempo: 10 dias
Participantes: Keila Beckman, Emerson dos Santos, Ivanildo Mendonça Clei Baldez
Grau de dificuldade: Muito difícil
A Chegada à Cusco – 1° Dia de Aclimatação
O grupo, formado por Emerson Fonseca, Ivanildo Mendonça, Clei Baldez e eu, chegou à Cusco em datas diferentes.
Clei e Emerson foram os primeiros a chegar. Clei ficou fazendo alguns passeios turísticos pela cidade enquanto Emerson embarcou numa viagem à Machu Pichu, a qual contratou diretamente no hostel em que estava. Dias depois, Ivan e eu pisamos em solo cusquenho.
Ainda na fila da imigração, pude sentir pela primeira vez os efeitos da elevada altitude no corpo, sentindo tontura pelo simples fato de ficar mexendo rapidamente, dentro da minha , a procura dos meus documentos.
No entanto, senti apenas isso. Creio que pelo fato de eu estar muito bem hidratada, já que desde o Brasil vinha bebendo bastante água, a fim de ajudar na aclimatação.
Como não tínhamos soles conosco,apenas real e dólares, tivemos que trocar um pouco de dinheiro na casa de câmbio do Aeroporto (onde é mais caro), para poder pagar o táxi até nosso hostel, que custou a faca de 40,00 soles. Fizemos o mesmo trajeto para retornar ao aeroporto, quando estávamos voltando ao Brasil, e pagamos apenas 12,00 soles, à um táxi que pegamos na rua. Então, fique esperto, evite pegar o taxo do Aeroporto. Procure por taxistas que ficam mais afastados, porém sempre de olho nos passageiros que chegam. Provavelmente o valor deles é bem menor, como o que pagamos.
Ao chegarmos ao hostel Clei não estava, mas logo apareceu e nos levou para conhecer um pouco a cidade (a pé mesmo, pois era tudo pertinho).
Fomos ao Mercado San Pedro, um lugar que vende de tudo um pouco, de alimentos a vestuário, e à Plaza de Armas, uma bela praça com três castelos, cheia de história.
No caminho passamos em uma casa de câmbio para trocar moeda e fomos a um supermercado, onde compramos algumas coisas para comer nos dias em que ficaríamos em Cusco .
De volta ao hostel, preparamos nosso jantar (Liofoods), conversamos um pouco e fomos dormir.
Durante todo o dia bebi 4 litros de água e fui para a cama com a Nalgene cheia ao meu lado. Não senti mais nenhum efeito da altitude no corpo, a não ser um leve desconforto abdominal.
O City Tour – 2° Dia de Aclimatação
Acordei neste dia com um pouco de dor de cabeça, que me acompanhou durante todo o dia, apesar de eu ter tomado bastante água.
Neste dia, fizemos um city tour pela cidade, com um guia que informou inicialmente que o passeio era gratuito, mas que ao final nos pediu uma “contribuição” de 20 soles.
Durante esse tour soubemos o motivo da Plaza de Armas se chamar assim, depois de ouvir uma longa história e interessante história; assistimos um quechua tocando alguns instrumentos musicais locais; visitamos uma loja onde tivemos uma aulinha sobre as diferentes lãs de alpaca; fomos a um mirante onde pudemos avistar a cidade um pouco mais de cima e, por fim, acabamos em um restaurante, onde nos foi servido o tal do Pisco. Essa parte deixei para os outros, porque eu não bebo nada alcoólico.
Como já estávamos ali, e ainda não tínhamos almoçado, resolvemos pedir algo para comer . Fiquei meio receosa, diante de tudo o que eu li sobre a higiene de Cusco, mesmo nos restaurantes, então fui de sopa bem quente. Menos chances de algo estar vivo por lá.
Depois do almoço fomos comprar gás para os dias de trilha. Pesquisamos em algumas lojas, próxima a Plaza de Armas, e compramos em uma que nos ofereceu o preço mais barato. Dois botijões Doite de 450g, nos custaram 40 soles (aproximadamente R$ 40,00) cada um. Um pequeno de 230g (tamanho que costumamos utilizar aqui no Brasil, da Nautika) custava 25 soles. Ou seja, gás lá, definitivamente, é um item caro, já que no mesmo botijão aqui no Brasil pagamos R$ 15,00.
Após isso, fomos verificar onde ficava o terminal de ônibus Paradero Levitaca, onde deveríamos pegar o ônibus para Tinki. A única informação que tínhamos, até então, era que ficava próximo ao Estádio Coliseo Cerrado .
Pegamos informações com alguns locais e acabamos parando no principal terminal da cidade, após uma longa caminhada. Mas não era de lá que partiam os ônibus para Tinki.
Pegamos então um táxi e pedimos para o motorista nos deixar no terminal Paradero Levitaca. Ele então nos olhou e perguntou “Paradero Levitaca?”, com uma cara de que nunca tinha ouvido falar dele. Aliás, todas as pessoas a quem perguntamos sobre esse terminal não o conheciam, apesar de haver informação na internet de que era esse o local de onde deveríamos partir para Tinki.
Falamos, então, para o taxista nos deixar no terminal próximo ao Estádio Coliseo Cerrado. Ele nos levou a um terminal chamado Terminal del Corredor – Cusco – Ocongate, localizado a Av. Tomasa Ttito Condemayta, n. 1615, onde verificamos que se tratava do terminal pretendido, mas com outro nome.
Verificado o local, horários e tarifa cobrada (mais detalhes aqui) retornamos para o hostel de táxi, porque já estávamos muito cansados de andar, momento em que encontramos com o amigo Emerson, que havia chegado de Machu Pichu.
No início da noite, Clei começou a dar sinais de que não estava muito bem. Tremia, suava, vomitava muito, estava com diarreia, dor no corpo e no abdômen. Não somos médico, mas por tudo o que lemos antes de ir para Cusco, sabíamos que aquilo se tratava de uma infecção intestinal. Isso era comum lá. Não perdemos tempo e demos a ele Ciprofloxacino, um antibiótico que levamos do Brasil, sob orientação médica, para esse tipo de caso.
Até agora nos perguntamos como ele se contaminou. Será que foi a comida que comeu naquele restaurante, após o city tour? Será que levou a mão à boca após ter pego em algo contaminado? Não sabemos dizer. O que sabemos é que os sintomas foram muito agressivos e ele passou muito mal a noite inteira.
Preparando as Cargueiras – 3° Dia de Aclimatação
Apesar de uma noite daquelas, Clei amanheceu um pouco melhor. Parecia que o antibiótico estava começando a fazer efeito.
Eu também estava bem, ao contrário do dia anterior, em que acordei e passei o dia todo com uma leve dor de cabeça. Continuei então com minha saga de tomar 4 litros de água por dia, a fim de ajudar na minha aclimatação.
Neste dia não fizemos muita coisa. Passamos praticamente todo o dia dentro do hostel. Saímos apenas para comprar água, comida, remédio (repor o antibiótico que o Clei estava usando, para levar para a trilha), lavar roupa e telefonar para a família. Fui também com Ivan na loja da Assunta, para ele comprar uma blusa de lã, pois estava achando que passaria frio com a que tinha levado.
À noite, fomos ao supermercado comprar algumas coisas para levarmos para a travessia, como batata, manteiga, queijo, pão, etc.
No hostel, recebemos um funcionário da empresa Andexplora, a qual contratamos para nos guiar no Campa , chamado Bryan, que foi até lá para recolher a segunda parte do dinheiro da guiada (o total da guiada ficou em 160 dólares).
Depois que ele partiu, separamos a comida e distribuímos igualmente o peso para os quatro integrantes do grupo, arrumando, ainda, as mochilas. Fomos dormir já tarde da noite.
Fiquei tão apreensiva , neste dia, com a situação do Clei, que não filmei nem fotografei nada, a não ser nossa arrumação da comida, motivo pelo qual ele não constou na edição do vídeo , o qual seguiu, equivocadamente, apenas com 2 dias de aclimatação em Cusco, quando na realidade foram 3.
A Viagem Para Tinki – 4° Dia de Aclimatação
Felizmente, neste dia, Clei acordou bem melhor.
Após o nosso café da manhã, Bryan foi ao nosso encontro no hostel em Cusco, para nos acompanhar até Tinki, onde pegamos um táxis até o Terminal Del Corredor, compramos nossas passagens e, partimos as 9:30.
Como nos dias anteriores, já acordei tomando muita água, e segui tomando durante toda a viagem. Ivan, por outro lado disse que ia dar uma maneirada na água, para não ter problema quanto a ir ao banheiro, já que no ônibus não havia um.
Em pouco tempo, comecei a sentir um desconforto na bexiga. Perguntei então ao motorista se demoraria muito para pararmos, pois precisava ir ao banheiro. Ele disse que em breve pararia, no entanto, a gente rodava, rodava, rodava e nada desse local de parada chegar. Estava a ponto de molhar as calças.
De repente ele parou o ônibus à beira da estrada e falou, “Pode ir chica. É aqui”. Olhei para um lado, olhei para o outro, e pensei “onde?”. Não havia nada ali, nenhuma construção, nenhuma moitinha. Desci, então, e me aliviei, ali mesmo, do lado do ônibus, sem nem lembrar que havia um espelho retrovisor à minha frente, e diversas pessoas sentadas daquele lado do nosso transporte.
Enquanto eu estava ali, no meu xixi eterno, várias cholas começaram a pular do ônibus, todas risonhas, e a agachar à minha frente, para fazer o mesmo . Essa cena foi hilária. Ao menos elas tinham mais privacidade com aquelas saionas.
Depois do alivio, voltei para o meu acento, na maior naturalidade , como se nada tivesse acontecido. Olhei para os meus amigos, eles olharam para mim e caímos na risada. “Você foi corajosa”, disse o Clei. 😆 😆
Depois desse sufoco todo, prosseguimos viagem até Tinki, onde chegamos às 12:30, tendo o Bryan se encarregado de nos levar até um hostel, próximo dali (mais informações aqui).
Pouco depois da nossa chegada, conhecemos o Flávio Mandura, guia local que nos guiaria no Nevado Campa. Faríamos todo o Circuito sem guia, porém, como queríamos subir esse nevado e não tínhamos experiência, tampouco conhecimento técnico, contratamos um guia para fornecer toda a segurança necessária.
Combinamos como o Flávio que ele deveria nos encontrar no oitavo dia do Circuito, no acampamento base do Campa (também chamado Jampa), para escalarmos a montanha na madrugada do dia seguinte .
Não sabíamos muito bem onde ficava esse acampamento base, pois não encontrei tracklog dele na internet, mas Flávio nos informou que bastava pegar uma trilha à esquerda, na descida do Passo Campa (Jampa).
Aproveitei a presença do Flávio para pedir indicação de uma pessoa que pudesse fazer o nosso transporte até a Laguma Singrenacocha, onde pretendíamos aclimatar, no dia seguinte. Na mesma hora ele telefonou para um parente seu e já deixou tudo acertado, pelo valor total de 10 soles.
Tudo acertado, preparar nosso jantar e, finalmente, caímos no sono. Porém, foi difícil dormir aquela noite, já que constantemente éramos acordados por uma mulher chorando e gritando no quarto ao lado.
No início parecia uma simples briga de casal, mas depois se tornou algo mais grave, passando a mulher a gritar por socorro, ocasião em que o dono do hostel, finalmente, tomou alguma atitude, chamando a autoridade policia local, colocando o homem para fora de lá.
Resolvida a confusão, pudemos finalmente descansar para o dia seguinte, que prometia ser lindo.
A Laguna Singrenacocha – 5° Dia de Aclimatação
Neste dia, o objetivo era ir de carro até a Laguna Singrenacocha, que fica a 4.400m de altitude, e permanecer, ao menos, 1 hora lá, a fim de aclimatar.
Por volta das 10:00 horas partimos com o nosso transporte rumo à laguna, onde chegamos em cerca de 30 minutos.
Assim que desci do carro senti que meu coração estava disparado. Se não fosse a elevada altitude, já que saímos de 3800 (Tinki) à 4400 (Laguna Singrenacocha), diria que aquilo era pura emoção de estar num lugar tão, incrivelmente, lindo.
Ficamos cerca de 1 hora no local aclimatando e retornamos para Tinki com a sensação de dever cumprido. Nos expomos a 4400 metros de altitude, agora era esperar nossos corpos reagirem a isso.
De volta à Tinki, almoçamos, dormimos um pouco, compramos mais água (4 litros de água cada um), demos uma última arrumada nas mochilas e fomos à uma lan house (que ficava em frente ao nosso hostel) enviar notícias à família, avisando que partiríamos para o circuito no dia seguinte e que só voltaríamos a dar notícias dali a 10 dias, quando finalizássemos a caminhada.
A noite, desta vez, não nos trouxe nenhuma surpresa. Pudemos descansar tranquilamente para iniciar aquele que seria, sem dúvida alguma, um grande desafio. Afinal, faríamos, pela primeira vez, uma longa caminhada em elevada altitude, e de forma totalmente autônoma e autossuficiente, sem guias e sem mulas.
O Circuito Ausangate via Vinicunca
Nosso objetivo era percorrer o Circuito Ausangate, por uma rota alternativa, que nos levaria até a montanha colorida chamada Vinicunca, retornando posteriormente para a trilha tradicional, por um outro caminho.
Fomos para a trilha com um Plano A e um Plano B, com áreas de campings alternativas, para o caso de ficarmos muito cansados nas subidas dos passos de montanha.
Na prática acabamos utilizando todos os acampamentos de segunda opção (Plano B), concluindo o Circuito Ausangate via Vinicunca da seguinte forma:
DIA 1 – Tinki (3800) – Upis (4440 m) ……………………………………………………. 14,5 Km …. 10h
DIA 2 – Upis (4440 m) – Jatum Pucacocha (4590 m) …………………………….. 11,5 Km …. 7h30min
DIA 3 – Jatum Pucacocha (4590 m) – Anantapata (4740 m)………………….. 6,0 Km …. 6h
DIA 4 – Anantapata (4740 m) – Quesiuno (4380 m) …………………………….. 14,0 Km …. 8h
DIA 5 – Quesiuno (4380 m) – Ausangatecocha (4670 m) …………………….. 7,5 Km …. 4h
DIA 6 – Ausangatecocha (4670 m) – Pampacanha (4470 m)………………… 8,5 Km …. 6h30min
DIA 7 – Pampacanha (4470 m) – Huchuy Finaya (4660 m) …………………… 5,5 Km …. 3h
DIA 8 – Huchuy Finaya (4660 m) – Acampamento Jampa (4810 m)………. 8,5 Km …. 6h30min
DIA 9 – Acampamento Jampa (4810 m) – Pachanta (4330 m) ……………… 9,0 Km…. 3h
DIA 10 – Pachanta (4330 m) – Tinke (3800 m) ……………………………………… 12,0 Km…. 4h
Dia 1: Tinke (3800) – Upis Thermas (4440 m)
As 8:00 horas da manhã, sobre um lindo dia ensolarado, demos inicio ao Circuito Ausangate via Vinicunca, seguindo o trajeto que o GPS nos indicava, a partir da rua principal de Tinki, onde nosso hostel estava localizado.
Em poucos minutos de caminhada, encontramos com o centro de controle de visitantes (um pequeno barraco de madeira), onde pagamos uma taxa de 10 soles para fazer o circuito, recebendo alguns sacos para retornar com o lixo.
Registros devidamente feitos, prosseguimos com nosso primeiro dia de trilha, que logo se tornou uma longa e interminável subida, por uma estrada de terra.
Após algum tempo, chegamos a uma bifurcação onde o GPS indicava que deveríamos seguir para a esquerda. Acreditava que, naquele ponto, estaríamos saindo da estrada para cair na trilha. Porém, o pessoal decidiu continuar na estrada, após pegar informações com um morador do local.
Pouco depois nos deparamos com duas crianças se dirigindo até a beira da estrada, para nos abordar pedindo doces (tinha lido na internet que isso ocorreria). Fui então até elas e dei alguns dadinhos que levava comigo, justamente para essas ocasiões.
Mais à frente encontramos com o Clei, junto a outras duas crianças. Ele estava colocando um pedaço de garrafa pet na roda das bicicletas delas para que fizesse barulho quando estivessem em movimento. Não preciso nem dizer que elas adoraram, né? Gostaram tanto que, mais tarde, levaram um outro amiguinho até o Clei, para que ele fizesse o mesmo na bike dele.
Nessa ocasião passou por nós um comboio com dezenas de motos, que as crianças disseram se tratar dos convidados de um matrimônio que ocorreria naquele dia, em Upis.
Seguimos com a caminhada até lá, onde chegamos às 12:00, verificando não se tratar do nosso local de acampamento. Ou seja, fomos parar na Upis errada. Estávamos em Upis Pueblo, não em Upis Thermas, que ainda estava bem longe dali, segundo o GPS.
Procurei, então, por uma trilha que pudesse nos jogar no trajeto do nosso tracklog e a encontrei facilmente, à esquerda, atravessando um pequeno riacho.
Depois que saímos daquele estrada e passamos a caminhar na trilha foi que as belezas do Circuito Ausangate começaram, realmente, a aparecer.
Éramos só nós, a imensidão dourada da puna peruana (vegetação local) e o grande Nevado Ausangate, lindão, à nossa frente.
Quando eu olho uma montanha dessas a primeira coisa que me vem à cabeça é “quero escalá-la”, mas infelizmente, ainda não tenho experiência para isso.
Enquanto a experiência não chega, contento-me em admirar esses gigantes nevados daqui de baixo, mas sem deixar de sonhar em, um dia, chegar ao seus cumes.
Era engraçado como, mesmo indo sempre em direção à Ausangate, nunca nos aproximávamos dele. Andávamos horrores e ele continuava lá, sempre distante, apesar de parecer tão perto.
Por toda a subida vinha mantendo meu ritmo bem devagar, e constantemente bebia água, seguindo as orientações que o Maximo Kauch passava nos seus artigos sobre aclimatação. E estava super bem.
Por outro lado, nosso amigo Emerson não podia dizer o mesmo. Sentia-se mal, fraco e com dor de cabeça. Não tivemos dúvida. Estava com sintomas de mal leve de altitude.
Aliviamos, então o peso da sua mochila, dividindo algumas coisas entre nós, que estávamos bem, a fim de facilitar a sua caminhada.
Nessa hora, Ivan e Clei decidiram ir mais rápido, à frente, a fim de já montar o acampamento, deixando tudo pronto só para o Emerson chegar e descansar. Eu, pro outro lado, fiquei com a missão de guiar o Emerson em segurança, até a área de camping.
Seguimos devagar, então, no ritmo dele, chegando, as 17:40, em Upis Thermas. Exatamente 3 horas depois do ponto em que o grupo se separou.
O camping fica a beira de um riacho e possui um banheiro (casinha de lata com buraco no chão) e uns tanques de águas termais.
Assim que nos viu chegando, imediatamente, Ivan correu até nós retirando a mochila do Emerson e a levando até a barraca, onde ele entrou e caiu no sono, rapidamente, de tanta exaustão, após tomar um remédio.
Creio que o problema com o Emerson se deu por falta de hidratação, pois desde Cusco ele não vinha tomando água suficiente. E, em elevada altitude, água é um dos itens mais importantes para uma boa aclimatação.
Passado aquele sufoco, preparamos o jantar, conversamos um pouco e logo vimos o Emerson acordar dizendo que precisava comer, para poder se recuperar para o dia seguinte. Preparei, então um purê de batatas, que era a única coisa que ele conseguia comer, aquela hora.
Devidamente alimentado, Emerson voltou a dormir, e finalmente pudemos descansar daquele longo dia.
Antes de cair no sono tive que tomar um analgésico, também, pois estava com uma leve dor de cabeça. Acabei descuidando da hidratação após o episódio com o nosso amigo.
Neste dia caminhamos 14,5 Km, por 10 horas, não enfrentando nenhum trecho técnico, tampouco passos de montanha pelo caminho. Foi uma longa caminhada, em princípio sempre em aclive, que se tornou mais suave, posteriormente, alternado descidas e subidas, pouco íngremes, porém não menos cansativas, com trechos em áreas planas.
Foi um dia puxado devido a grande quilometragem que enfrentamos, em sua maior parte em subida. Numa escala de 1 a 5 (1: fácil, 2: moderado, 3: difícil, 4: muito difícil: 5: extremamente difícil), considero de grau 3 a dificuldade deste dia, da forma em que fizemos, carregando todo nosso equipamento.
Dia 2 – Upis (4440 m) – Jatum Pucacocha (4590 m)
Acordei por volta das 8:00, após enfrentar uma noite muito fria, onde o termômetro marcou quase 2 graus negativos.
Apesar de eu estar super abrigada (vestia duas calças e duas blusas de polartec, pluma nas pernas e no tronco, gorro e luvas de polartec, meias de lã de merino), e com um saco de dormir que promete aguentar -18, no conforto (Marmot Trestles 0), senti que fiquei no meu limite.Não senti frio, mas também não estava tão quente quanto eu gostaria de estar.
Ivan, por outro lado, reclamou que sentiu frio. Ele usava o mesmo saco de dormir que o meu, mas não estava vestindo tantas camadas de roupas quanto eu.
A noite toda senti meu rosto gelado, como se eu estivesse fora da barraca. Usávamos uma três estações da Trilhas e Rumos (Super Esquilo), que quebrou um galhão, mas, realmente, não é a mais apropriada. Aquele clima pede uma 4 estações, para aguentar melhor o frio.
Devido as baixas temperaturas da noite, tudo amanheceu branquinho, aquele dia. Foi lindo acordar e ver aquilo.
Emerson, felizmente, se sentia melhor, mas dizia ainda estar com dor de cabeça.
Chegou-se a cogitar de mandar as coisas dele, para o próximo acampamento, por um muleiro que lá se encontrava, mas acabou não dando certo, apesar dele ter concordado, pois demoramos para desmontar o acampamento e o muleiro acabou partindo.
Nesse momento, Emerson ficou desnorteado. Olhava para mim, com angústia e tristeza, e falava ” E agora Keila. O que eu faço? Eu não sei voltar daqui?”
Fui, então, até ele, segurei seu rosto com as duas mãos e disse, olhando nos seus olhos: “Você não precisa voltar. Você vai conseguir. Nós dois vamos juntos, atrás, devagarinho, fazendo várias paradas para comer e hidratar, e você vai melhorar. Confia em mim.”
Emerson tomou então um remédio e, às 9:40, demos início a caminhada do dia, após pagar 5 soles a um senhor que apareceu nos cobrando pelo acampamento.
Combinamos que faríamos paradas rápidas, a cada meia hora , para descansada, tomar água e comer alguma coisinha. E assim fizemos, não só naquele dia, mas durante todo o circuito, com exceção do terceiro dia, como verão mais à frente.
A caminhada seguiu subindo o nosso primeiro passo de montanha, o Arapa (4760 m), o qual transpomos as 12:30, deixando para trás a linda paisagem de gramíneas douradas, característica da puna peruana, e adentrando num local onde predominava terra e muita secura. Senti-me como se estivesse num grande deserto. E como o deserto era igualmente lindo.
Durante a descida do Passo Arapa, a paisagem foi voltando ao que era, antes de sua transposição.
Aos poucos o deserto foi ficando para trás e as gramíneas voltaram a aparecer, e, junto com elas, algumas alpacas pastando, que, surpreendentemente, não se incomodavam com a nossa presença.
Eu olhava pra elas e pensava. “Como podem sobreviver comendo esse mato seco?” É, Darwin estava certo, tudo é questão de adaptação.
A trilha seguiu em geral em descida, com uma paisagem estupeficante a nossa volta, formada por lagoas abraçadas por suas altas montanhas.
Em determinado momento, nosso tracklog nos levou a um mirante da Laguna Pucacocha, onde havia um banquinho com telhado, para apreciar a vista com maior conforto.
De volta à trilha principal, prosseguimos com a caminhada, chegando, em pouco tempo, a outro mirante, da mesma Lagoa, onde ficamos boquiabertos.
Nesse trecho, nosso tracklog indicava que deveríamos seguir pela esquerda, contornando a lagoa e subindo uma pequena encosta, que, pelo o que pudemos ver, daria direto na Laguna Jathum Pucacocha, área do nosso acampamento.
No entanto, como nossos amigos, que caminhavam mais à frente, seguiram pela direita, decidimos ir por lá também, para não nos separamos. Mas ficamos com aquela pulguinha atrás da orelha: “O que será que a outra trilha tinha de especial que o tracklog nos mandava por lá?”. Logo viemos a saber.
A caminhada prosseguiu entre dois morros que impediram que tivéssemos qualquer visual, até avistarmos à Laguna Jatum Pucacocha , onde chegamos as 16:50.
Enquanto nos preparávamos para montar acampamento, uma senhora, do outro grupo que lá estava, veio até nós, oferecer tâmaras. Devíamos estar com cara de acabados nessa hora. Só pode. 😆 😆 .
Brincadeiras a parte, achei muito fofa a atitude dela. Poderia ter ficado lá na barraca em que estava, quentinha, comendo as guloseimas preparada por seu guia, mas se importou em fazer a gente se sentir melhor.
Que nas trilhas desse mundo existam mais pessoas como ela, que não olham apenas para o próprio umbigo e procuram ajudar o próximo de alguma forma.
A área de acampamento fica numa grande planície às margens da Laguna Jatum Pucacocha e não existe absolutamente nada no local. Ali é tudo selvagem. Tanto assim é que não se cobra para acampar.
No entanto, quando chegamos, havia uma barraca banheiro, montada pelo guia do outro grupo, o qual nos autorizou à usá-la, se precisássemos, já que não havia uma moitinha naquela planície onde pudéssemos fazer nossas necessidades com privacidade. Mais uma boa alma no nosso caminho.
Logo acima desse acampamento, subindo uma pequena encosta, havia uma outra lagoa menor, chamada Uchuy Pucacocha, com um glaciar à sua frente. Não fomos até lá porque estávamos cansados e o sol logo cairia. Precisávamos montar o acampamento logo, já que as temperatura despencava bruscamente quando o sol se punha.
Emerson chegou super bem ao acampamento, neste dia. Cansado claro, como eu e os demais também estavam, mas super bem . Dor de cabeça, fraqueza, mal estar? O que é isso mesmo? Emerson nem lembrava mais . Aliás, eu também estava super bem . Nada de mal de altitude e, apesar da longa caminhada do dia, me sentia bem inteira.
Nosso esquema de andar devagarinho, tomar água e comer a cada meia hora parecia ter dado super certo. Finalmente pude ver o meu amigo curtindo a trilha, após todo o sofrimento por qual passou no primeiro dia.
Andamos, neste dia, 11,5 Km, por 7h30min, enfrentando um passo de montanha, à 4760 metros de altitude, não encontrando nenhum trecho técnico pelo caminho, mas percorrendo trechos de trilha estreita, em encosta íngreme,, onde era preciso prestar muita atenção.
Foi um dia puxado devido a grande quilometragem que enfrentamos associada a subida do Passo Arapa, após o qual alternou-se subidas e descidas, menos íngremes, porém não menos cansativas, com trechos planos. Numa escala de 1 a 5 (1: fácil, 2: moderado, 3: difícil, 4: muito difícil: 5: extremamente difícil), considero de grau 3 a dificuldade deste dia da forma em que fizemos, carregando todo nosso equipamento.
Dia 3 – Jatum Pucacocha (4590 m) – Anantapata (4740 m)
O dia amanheceu novamente branquinho, mas logo o sol derreteu todo aquele gelo, que se formou na noite fria.
Fizemos alguns cliques, tomamos café, desmontamos o acampamento e iniciamos nosso terceiro dia de trilha, as 8:20.
Neste ponto sairíamos do Circuito Ausangate tradicional, pegando uma trilha alternativa à direita (o Circuito tradicional segue pela esquerda), que nos levaria até Vinicunca, a montanha colorida, após transpormos 2 passos de montanhas (Passo Ausangate e Passo Surini)
A ideia era acampar em Quesiuno, após Vinicunca, mas tínhamos um plano B (Anantapata), para o caso de ficarmos muito cansados na subida do Passo Ausangate, afinal, se tratava de uma ascensão a quase 5000 metros de altitude (4940m para ser exata), carregando todo o equipamento.
No início Emerson seguia a caminhada comigo, mas em determinado momento da trilha, começou a seguir o ritmo do Clei, passando a andar mais à frente.
Nessa hora Ivan passou a me acompanhar. Grande Ivan, sempre velando pelos retardatários. Muito orgulho de ter uma pessoa assim no meu grupo, que está sempre se preocupando com os outros.
Seguimos então subindo a montanha, a passos lentos. Cada passo uma respiração. A dificuldade era tremenda. E eu via que, assim como para mim, para Ivan também não estava sendo fácil. Precisei parar muitas vezes para recuperar o fôlego, mas com uma paisagem daquelas era até difícil.
Olhando para trás podíamos ver a laguna Jatum Pucacocha, onde acampamos, e sua irmã menor, Uchuy Pucacocha, pouco acima, sendo abraçadas pelo gigante nevado às suas costas. Um cenário de tirar o fôlego , literalmente.
Após 2h40min de subida, chegamos finalmente, as 11:00hs, ao cume do Passo Ausangate, à 4940 metros de altitude, onde encontramos com um casal de trekkers e um muleiro, que estavam indo para Vinicunca.
A paisagem que se escondia por trás desse passo era difícil de acreditar. Parecia que eu estava em uma grande tela de pintura. Montanhas vermelhas, pinceladas de marrom e gramíneas verdes e douradas descendo de suas encostas. Lindo, lindo.
De lá pudemos avistar o Lodge de Anantapata e , logo atrás o Passo Surini, que se assemelha à Vinicunca, com suas cores dispostas em forma de arco-íris.
Antes de iniciarmos a descida Clei sugeriu que colocássemos em prática nosso Plano B, acampando em Anantapata, já que aquela subida tinha sido extremamente puxada e ainda havia um passo maior à enfrentar naquele dia (Passo Surini – 5000m).
Apesar de ainda estar muito longe de o sol se pôr, todos concordaram que o ideal era ficarmos em Anantapata mesmo, e descansar para encarar o Passo Surini no dia seguinte, com as energias recuperadas.
Iniciamos então a descida do Passo, as 11:15, rumo à Anantapata , por uma trilha que segue rumando para a direita , em direção à montanha da foto abaixo.
Nessa hora Emerson disse que tinha se esforçado muito na subida, e acabou se desgastando muito rapidamente. Estava novamente com dor de cabeça e sentindo-se fraco. Disse que queria, então, seguir nosso esqueminha do dia anterior até o final do circuito: andar devagar e parar, a cada meia hora, para tomar água e comer algo.
Eu li um artigo do Máximo Kauch (http://altamontanha.com/treinamento-e-preparaao-para-montanhas-de-altitude/ – página atualmente indisponível) em que ele falava que os corredores não conseguiam segurar os pés; que por serem muito bem preparados, andavam mais rápido, sem perceber que estavam fazendo isso, motivo pelo qual era comum vê-los passando mal em alta montanha, onde era necessário se manter a passos lentos. Emerson é um corredor. Creio que voltou a passar mal devido a isso.
Durante a descida encontramos uma flor lindíssima em meio à secura do solo. Inicialmente achei que fosse uma flor de pano, que pudesse ter caído de alguma chola que tenha passado por ali, mas logo olhei em volta e vi várias flores iguais, espalhadas para todo lado. Incrível como brota vida de uma terra que parece tão estéril.
Após a descida do Passo Ausangate, chegamos a uma área plana. Mas a alegria durou pouco. logo já estávamos subindo novamente.
Em determinado momento daquela subida, meu GPS indicou que deveríamos seguir para a esquerda, saindo da trilha bem demarcada que seguíamos. Gritei então para Clei e Ivan, que estavam mais à frente, retornarem, pois o caminho era por ali.
Eles ficaram meio receosos, achando que deveríamos seguir a trilha que estávamos, pois não viram nenhuma trilha por onde eu queria seguir. Pedi, então, que esperassem , que eu iria verificar.
Deixei minha mochila no chão, com o Emerson, e segui para a esquerda, conforme indicava o tracklog, num trecho sem trilha, subindo, em seguida, uma pequena encosta, onde encontrei uma trilha bem demarcada. Segui por essa trilha, por algum tempo, a fim de verificar se ela realmente levaria a Anantapata e pude constatar que sim.
Provavelmente , aquela trilha bem demarcada que estávamos seguindo nos levaria direto à subida do Passo Surini, sem passar por Anantapata.
Fui então até um ponto daquele cume em que os meninos pudessem me ver e gritei à eles informando que tinha encontrado a trilha. Como Clei e Ivan já estavam bem mais acima, apenas caíram para a esquerda, dali mesmo, subindo a encosta . Eu por outro lado, tive que descer de volta até o Emerson para pegar minha mochila e prosseguir com a caminhada.
Após subirmos essa pequena encosta iniciamos a última descida do dia, beirando um precipício, até chegarmos ao grande platô gramado de Anantapata, as 14:15, atravessando, antes, um pequeno riacho, quase seco.
Quando chegamos, não avistamos ninguém. O local parecia vazio. E realmente estaria, não fosse a presença de 3 pessoas, que ali trabalhavam.
Eles disseram que poderíamos acampar por ali, mas não sabemos se isso era realmente permitido, ou se eles apenas foram legais conosco, pois vimos um outro grupo, que chegou, pouco depois de nós, acampar longe do Lodge, próximo ao rio.
Nessa área em que ficamos, próxima ao Lodge, não havia banheiros (os mesmos se encontravam apenas dentro do Lodge), nem qualquer outro tipo de estrutura para uso de quem estivesse acampado. Havia, no entanto, uma torneira, com água corrente, onde pudemos pegar água. De qualquer forma, como disse anteriormente, não sei se é realmente permitido acampar ali. Na dúvida, acampe mais afastado, próximo ao riacho.
A noite, jantamos junto aos nossos novos amigos, que dividiram conosco a sopa que tinham preparado. Tive receio de tomar, por causa daquele meu medo de contaminação , mas achei muita falta de educação recusar. Em contrapartida, servimos à eles o nosso Liofoods.
Devidamente alimentados, fomos dormir, pensando no dia seguinte. O dia em que, finalmente, encontraríamos a tão sonhada Vinicunca.
Percorremos, neste dia 6,0 Km, em 6 horas, transpondo um passo de montanha localizado à 4940 metros de altitude (Passo Ausangate), não encontrando com nenhum trechos técnicos pelo caminho.
Foi um dia muito puxado, apesar de relativamente curto, onde após a exaustiva subida do Passo Ausangate, seguimos em descida até um trecho plano para então iniciar uma subida moderada até a área de camping. Numa escala de 1 a 5 (1: fácil, 2: moderado, 3: difícil, 4: muito difícil: 5: extremamente difícil), considero de grau 4 a dificuldade deste dia, da forma em que fizemos, carregando todo nosso equipamento.
Dia 4 – Anantapata (4740 m) – Quesiuno (4380 m)
Foi novamente uma noite bem fria. As barracas e a vegetação não amanheceram congeladas, mas havia gelo nas gramíneas próximas à torneira em que estávamos coletando água.
Após o café da manhã, desmontamos acampamento, nos despedimos dos amigos peruanos e iniciamos a nossa caminhada do dia, rumo à Vinicunca, as 8:30.
A trilha seguiu inicialmente plana mas, em poucos metros, começamos a subir o Passo Surini. Achei a subida bem puxada, porém um pouquinho mais fácil que a do Passo Ausangate.
Em 2 horas de caminhada já estávamos no topo do passo , as 10:30, a 5000 metros de altitude, onde pudemos avistar , pela primeira vez, a linda Vinicunca, ainda bem longe do nosso alcance.
Comemoramos os nossos primeiros 5000 metros, fizemos alguns cliques e logo iniciamos a descida do passo, por uma trilha estreita , em uma encosta inclinada de solo vermelho.
Foi meio tenso passar por essa encosta mas, felizmente, foi bem rápido. Na foto abaixo não é possível verificar, com clareza, quão íngreme ela é, mas já dá para se ter uma ideia.
Em cerca de 20 minutos finalizamos a descida do passo, à beira da Laguna Surini, uma pequena lagoa verde aos pés da montanha, que, apesar do tamanho, impressiona os olhos.
Prosseguimos com a nossa caminhada contornando essa lagoa pela esquerda, para então iniciar uma nova subida, menos íngreme, porém não menos cansativa.
Apesar de menos íngreme que a subida do Passo Surini, não foi nada fácil vencer mais esse obstáculo. Porém, a cada obstáculo vencido éramos presenteados pela mãe natureza, ou Pachamama, como dizem os povos quechuas.
Logo iniciamos uma nova subida, avistando, ao seu final uma segunda lagoa, chamada Quiullacocha, a qual não tinha a beleza das cores vibrantes da Laguna Surini, mas era igualmente linda
Seguimos em frente, contornando essa lagoa pela direita, até chegar em uma nova subida, por onde seguimos rumando para a esquerda, em direção à Vinicunca.
Vencido mais esse trecho, avistamos Vinicunca já bem próxima. A vontade era não parar mais de caminhar enquanto não chegássemos até lá, mas, abruptamente, o tempo fechou e começou uma nevasca, nos forçando a colocar roupas quentes e impermeáveis. Era incrível o frio que fazia quando vinham essas nevascas.
Devidamente abrigados seguimos com a caminhada subindo por onde nosso tracklog indicava, me batendo uma angústia, nessa hora, pois o mal tempo estava escondendo Vinicunca de nós.
A ideia era chegar à montanha colorida pela frente, caminho pelo qual o tracklog nos levava. No entanto, ao chegarmos no topo da montanha, onde deveríamos seguir para a esquerda, indo de encontro com a “frente” de Vinicunca, verificamos que se tratava de uma trilha muito perigosa, para passarmos nas condições climáticas em que nos encontrávamos (nevando e ventando). Trilha estreita, em terreno muito inclinado, que seguia contornando a montanha, pelo lado do vale, estando exposta à todo o vento que de lá soprava.
Emerson, Ivan e eu, concordamos que seria melhor contornar essa montanha por uma trilha que seguia pelo lado que estávamos. Apesar de também ser uma trilha relativamente perigosa, era mais segura que a trilha que contornava pelo lado do vale, pois havia uma montanha no meio, bloqueando todo o vento. Não chegaríamos à Vinicunca pela frente, como queríamos, mas estaríamos mais seguros. Seguimos por esta trilha, então.
Esse trecho foi bem tenso. Muita terra solta, num terreno inclinado, onde só havia espaço para colocar um pé à frente do outro.
Felizmente foi um trecho rápido. Logo já estávamos de cara com a “lateral” de Vinicunca, onde chegamos as 13:30.
O que dizer de Vinicunca? Até hoje eu não tenho palavras. Ela era infinitamente mais linda e grandiosa que qualquer foto que eu tenha visto.
Para a nossa alegria, suas cores estavam bem vívidas, naquele momento, devido a neve que havia caído e molhado o solo. A mesma neve que afugentou todos os turistas que lá estavam, antes de chegarmos, dos quais vimos somente as pegadas.
A montanha era toda nossa. E toda nossa com um visual incrível pois, assim que chegamos, o tempo milagrosamente limpou. Emerson disse que Deus fez aquilo por nós e eu acredito nele.
Infelizmente não podíamos ficar o resto do dia ali. Ainda havia um logo caminho à trilhar até nossa área de camping, antes que a noite caísse.
Assim, por volta das 14:00 horas iniciamos a descida até Quesiuno, por uma trilha diferente da que chegamos.
Durante o percurso entre Vinicunca e Quesiuno, cruzamos, por três vezes, com casinhas que indicavam se tratar de banheiros (ali era uma rota de turistas) e com uma pequena aldeia.
Chegamos à Quesiuno as 16:40, após cerca de 3 horas de descida, cruzando no caminho com alpacas e ovelhas, pastando nos vale.
La existem algumas casas cercadas por pedras, três banheiros (buraco no chão cercado por uma lona) e uma construção nova, em madeira, que se destacava das outras.
Fomos até lá e verificamos se tratar de um estabelecimento, que estava sendo construído para receber melhor os turistas. O dono, chamado Francisco, nos permitiu acampar por ali, pagando uma pequena quantia de 5 soles por cabeça.
Depois de armarmos as barracas e colocarmos mais roupas para enfrentar o frio da noite, preparamos nosso jantar e capotamos.
Neste dia percorremos 14,0 Km, em 8 horas, subindo um passo de montanha localizado a 5000 metros de altitude (Passo Surini), bem como outra montanha de nome desconhecido, de mesma altitude, utilizada como mirante da foto tradicional de Vinicunca.
Não enfrentamos nenhum trecho técnico, porém percorremos algumas trilhas estreita em encostas bem íngremes, onde era preciso prestar muita atenção.
Foi um dia muito puxado, onde caminhamos muitos quilômetros, enfrentando, além do passo de montanha, outras subidas também cansativas, apesar de menos íngremes, antes de dar finalmente início à fácil descida até á área de camping. Numa escala de 1 a 5 (1: fácil, 2: moderado, 3: difícil, 4: muito difícil: 5: extremamente difícil), considero de grau 4 a dificuldade deste dia, da forma em que fizemos, carregando todo nosso equipamento,
Dia 5 – Quesiuno (4380 m) – Ausangatecocha (4670 m)
Acordei, neste dia, com barulho de automóvel e pessoas falando. Coloquei a cabeça para fora da barraca para dar uma espiada e vi várias vans estacionadas, lotadas de turistas. Foi aí que eu descobri que ali era a porta de entrada deles para a montanha colorida, sem ter que encarar o Circuito Ausangate.
Era tanta gente, mas tanta gente, que eu fiquei até admirada de não ter encontrado nenhum tipo de lixo na trilha. Estava impecavelmente limpa. Ou os turistas são muito bem educados ou os locais fazem uma boa manutenção da trilha.
Assim como nos dias anteriores, tratei de já deixar minhas coisas em ordem , colocando tudo nos sacos estanques, e fui tomar café com o grupo. Pouco antes, Clei havia ido até o rio para pegar água e aproveitou para lavar a sua calça. Pendurou para secar e quando foi pegar para guardar , a calça estava completamente dura. Foi muito hilário. A calça congelou só no tempo em que tomávamos nosso café.
O mais estranho é que não me lembro de estar fazendo tanto frio assim naquela manhã, que inclusive estava ensolarada. Acho que já estava acostumada ao clima frio do lugar. Só pode.
Enquanto desmontávamos o acampamento, o Francisco, dono do local onde estávamos acampados, chegou. Ele mora em um povoado chamado Chilca, que fica próximo dali.
Clei deu umas dicas para ele, sobre o que poderia fazer no seu estabelecimento, para melhorar a recepção aos turistas. Desenhou tudo em um pedaço de papelão e entregou ao Francisco, do qual vi brilhar os olhinhos. Ele parecia ter ficado encantado com as ideias do Clei.
Como tracei a mão a trilha entre Quesiuno e o início da trilha do vale que nós levaria até Ausangatecocha (a partir de onde eu tinha um tracklog seguro novamente) pegamos algumas informações com o Francisco, antes de partir.
Francisco disse que deveríamos seguir até o final da estrada e lá subir uma trilha à direita, até chegarmos ao Vale que levaria ao nosso destino. Quando encontrássemos com o Vale, deveríamos rumar para a direita, sem descer até ele, seguindo em direção ao grande nevado branco, até o nosso acampamento, pelas encostas das montanhas.
Chegada a hora, nos despedimos e demos inicio ao quinto dia de caminhada, as 10:15, rumo a Ausangatecocha, pela estrada que passa às portas do estabelecimento do Francisco.
Todo o trajeto na estrada foi tranquilo, bem plano. Porém, ao término da estrada, quando adentramos na trilha, começamos a pegar algumas subidas e descidas leves, alternadas com trechos mais planos. O visual era incrível.
Pouco antes de chegarmos à beira do vale, que nos levaria ao acampamento Ausangatecocha, encontramos uma casinha com cercado de pedras, onde haviam 3 totens bem grandes, proximos.
Clei acreditava que se tratavam de túmulos. Parece que os incas enterravam seus entes daquela forma, sentados.
Se essa informação estiver correta, os quechuas da região ainda mantém as tradições de seus antepassados incas.
No local também havia um rapazinho, por volta de uns 10 anos de idade, de bicicleta, com o qual o Ivan foi pedir informações da direção de Ausangatecocha, a qual bateu com as informações passadas pelo Francisco e com o tracklog que eu estava seguindo.
Adentrando no Vale de Ausangatecocha, seguimos pelas encostas da montanha com o grande nevado branco sempre a nossa frente, até chegarmos à uma planície onde havia uma casinha,que se dividia em dois cômodos, sendo um deles um banheiros com vasos sanitários e pias.
Quando chegamos , as 14:00, Clei já havia varrido o local para que pudéssemos dormir lá dentro. Disse que seria melhor, assim não teríamos que desarmar a barraca no dia seguinte.
Ajeitamos então nossas coisa lá dentro e preparamos duas sopas para comermos, misturadas com carne moída da Liofoods. Para acompanhar, matamos o restante do salame que ainda tínhamos. Depois fomos apreciar a paisagem.
Algum tempo depois Ivan nos comunicou que tinha lavado o banheiro para usarmos. Parece que a coisa estava feia por lá.
Após, fomos até a Laguna Ausangatecocha, onde chegamos em poucos minutos de caminha. Um lugar lindo, bem próximo a um glaciar.
Não nos demoramos muito por lá, pois o dia já começava a cair, retornando em pouco tempo ao abrigo, onde conversamos um pouco e caímos no sono, as 18:00.
Esse foi um dia curto de caminhada propositalmente. Planejamos que esse seria nosso dia de descanso, a fim de que pudéssemos subir, no dia seguinte, o tão temido Passo Palomani (que diziam ser o mais difícil do circuito), com todas as nossas energias recuperadas.
Percorremos 7,5 Km, por 4 horas, sem enfrentar qualquer passo de montanha ou trecho técnico pelo caminho. Porém haviam trechos de trilhas estreita em encostas inclinadas, onde era preciso prestar muita atenção.
Este foi um dia moderado, que seguiu por uma curta distância, alternando trechos planos, com trechos de descida e subida suaves, apesar de ainda cansativos, até o acampamento Ausangatecocha. Numa escala de 1 a 5 (1: fácil, 2: moderado, 3: difícil, 4: muito difícil: 5: extremamente difícil), considero de grau 2 a dificuldade deste dia, da forma em que fizemos.
Dia 6 – Ausangatecocha (4670 m) – Pampacanha (4470 m)
Depois de tomarmos nosso café da manhã e arrumarmos nossas mochilas, partimos, as 8:30, com destino à Huchuy Finaya.
Durante a subida pudemos ver a laguna Ausangatecocha e o abrigo em que dormimos, ficarem cada vez mais distantes.
A trilha seguiu em sua grande parte como a do restante do circuito, ora por entre gramíneas, ora por entre trechos de rocha, ora por trechos de terra solta em encostas íngremes. O diferencial foi o trecho que passamos, já bem próximo ao topo, em que havia neve, em torno da trilha
Foram 3 horas e meia, de uma puxada subida, onde foi preciso controlar ao máximo a respiração para não perdermos o fôlego, chegando ao topo, às 12:00, onde meu GPS marcou 5130 metros de altitude.
A subida do passo Palomani foi bem dura. Realmente é o passo de montanha mais difícil do circuito, mas o Passo Ausangate não fica muito atrás não. Creio que o diferencial do Passo Palomani seja o maior tempo em que ficamos subindo e a maior altitude em que ele se encontra.
Como nos passos de montanhas anteriores, subi dando uma respirada (inspiração+expiração) por passada, o que era bem fácil de se fazer, tendo em vista o lento ritmo em que Emerson e eu estávamos. Isso me ajudou muito a encarar melhor a subida e o peso da minha mochila.
Caminhei um pouco sobre a linda crista da montanha, que, aliás, também era colorida, e logo iniciamos a descida, avistando, em poucos metros de caminhada, um lago rosa, a beira do nevado, à nossa esquerda. Isso mesmo. Rosa!! Pensa numa coisa impressionante?
Infelizmente nenhuma das fotos que eu tirei conseguiu capturar o rosa que os meus olhos viram. Mas na foto acima já dá para se ter uma ideias
Prosseguimos, então, a caminhada com um mar de montanhas à nossa frente, numa trilha bem demarcada que seguia sempre em descida em direção à Pampacancha.
Em determinado momento Emerson pediu para fazermos uma pausa mais prolongada, a fim de descansarmos um pouco, já que não fizemos isso quando chegamos ao cume do Passo Palomani.
Seria também uma oportunidade de podermos apreciar melhor toda a beleza do lugar à nossa volta, sem correria.
Teve lanchinho, teve risadas, teve massagem (ou melhor, porrada, 😆 😆 – assistam o vídeo e entenderão) e até cochilo, mas logo precisamos “levantar acampamento” e continuar com a descida até Pampacancha.
As 14:50, chegamos, finalmente, à Pampacancha, uma planície meio alagada, localizada no fundo de um vale, e às margens de um riacho, onde não existe qualquer estrutura para camping.
Tínhamos planejado acampar neste dia em Huchuy Finaya, ma acabamos ficando em Pampacancha mesmo, colocando em prática, novamente, nosso Plano B, sem termos trocado uma palavra, uns com os outros, sobre isso. Apenas chegamos e ficamos. Estávamos todos muito cansados.
Montamos as barracas, vestimos roupas quentes , aproveitamos um pouco a vista, jantamos e fomos dormir, assim que o sol caiu.
Neste dia caminhamos 8,5 Km, por 6h30 min, transpondo um passo de montanha, localizado a 5130 metros de altitude (Passo Palomani), num percurso sem trechos técnicos, mas que em determinado momento requer-se um pouco mais de atenção devido a existência de uma trilha estreita em terreno inclinado.
Foi um dia extremamente puxado, apesar de se tratar de um trecho relativamente curto, que se resume à subir e descer o desgastante Passo Palomani. Numa escala de 1 a 5 (1: fácil, 2: moderado, 3: difícil, 4: muito difícil: 5: extremamente difícil), considero de grau 5 a dificuldade deste dia, da forma em que fizemos, carregando todas as nossas coisas.
Dia 7 – Pampacanha (4470 m) – Huchuy Finaya (4660 m)
Neste dia acordei com o berro dos animais que pastavam bem cedinho, no verde vale de Pampacancha. Diferentemente dos outros dias em que só vimos lhamas e alpacas, haviam algumas ovelhas também.
Finalmente estava vendo aqueles bichos comerem algo mais apetitoso. Estava dando dó já de vê-los, todo santo dia, alimentando-se daquelas gramíneas secas.
Após o café da manhã, levantamos acampamento e iniciamos a caminhada do dia, as 9:20, subindo a montanha à esquerda do nosso acampamento, no fundo do vale de Pampacanha, depois de atravessar um pequeno trecho alagado.
Superada uma inclinação maior no início, a caminhada seguiu subindo de maneira mais suave, até passarmos a enfrentar áreas mais planas, onde nos deparamos com um grande nevado à nossa frente.
Pouco depois encontramos uma outra casinha, igual aquela de Ausangatecocha, a qual verificamos estar trancada à cadeado.
Provavelmente ali era a área de camping de Huachuy Finaya, no entanto nosso tracklog indicava que deveríamos seguir mais à frente, a fim de ficarmos mais próximos da subida do Passo Campa (também chamado Jampa).
Seria perfeitamente possível acampar neste lugar, já que a distância até o local, onde o GPS indicava que deveríamos ficar, não passava de 1,5 Km. Porém, não havia muita vantagem nesta hora, pois estava tudo trancado. No máximo teríamos água encanada.
Confesso que não fiquei triste em encontrarmos tudo trancado, e não podermos dormir dentro do abrigo, ou utilizarmos o banheiro. Tenho um pouco de aversão à isso pois o que me leva à trilha é, justamente, o fato de ficar longe de tudo o que eu já tenho na minha casa; de ficar longe da minha zona de conforto.
Seguimos, então, para a aldeia de Huchuy Finaya, localizada a 4660 metros de altitude , embaixo de uma pequena nevasca, que se intensificou quando lá chegamos, as 12:15.
Acampamos entre duas casas, dentro de um cercado de pedras. Uma delas não tinha porta, e se tratava de uma espécie de local de armazenamento de “feno” ou seja lá o que for aquilo que encontramos lá dentro.
Depois que a nevasca passou fomos dar uma olhada em volta. Haviam 2 rios lá, mas apenas um dele tinha água transparente. Coletamos água deste rio e retornamos ao acampamento, onde jantamos e logo fomos dormir.
Percorremos neste dia 5,5 Km, em 3 horas, não encontrando com nenhum trechos técnicos, pelo caminho.
Foi um dia moderado. Tirando a subida inicial que exigiu um pouco de esforço, a trilha seguiu praticamente plana por todo o percurso. Numa escala de 1 a 5 1: fácil, 2: moderado, 3: difícil, 4: muito difícil: 5: extremamente difícil), considero de grau 2 a dificuldade deste dia, da forma em que fizemos.
Dia 8 – Huchuy Finaya (4660 m) – Acampamento Jampa (4810 m)
Depois de uma noite gelada daquelas, tomamos nosso café da manhã, levantamos acampamento e partimos, as 8:20, rumo ao acampamento base Campa (também chamado Jampa).
Logo no início da caminhada, demos uma parada no rio, para coletar água, e verificamos que a vegetação em volta estava toda congelada. Consequência da fria noite que enfrentamos.
Seguimos a caminhada, passo acima, numa trilha, sempre em subida, porém não tão íngreme quanto a dos outros passos que tínhamos encarado. Apesar disso, foi uma subida também muito difícil e desgastante onde era preciso controlar a respiração para não perder o fôlego.
Por volta das 12:30, chegamos ao topo do Passo Campa, à 5080 metros de altitude, após aproximadamente 4 longas horas de caminhada.
Foi o passo de montanha que mais levamos tempo para subir, durante todo o circuito, o qual perdeu apenas para o Passo Palomani.
Que lugar mágico. Estávamos muito, mais muito perto mesmo de um glaciar, descendo a encosta da montanha Em frente à ele, uma infinidade de totens, onde pudemos sentir uma energia incrível.
Ali, avistamos Clei e Ivan parados olhando, à frente deles, uma trilha estreitíssima, que seguia pela inclinadíssima encosta de uma montanha cheia de pedregulhos. Um verdadeiro precipício.
Olhei para aquilo e pensei “Meu Deus… diga que não é por ali que teremos que passar”. Logo Ivan veio até mim, perguntando se aquele era o caminho. Disse que não sabia, mas logo tratei de consultar o GPS e verifiquei que sim. Não havia trilha alternativa.
Ficamos ali parados, atônitos. Todos, inegavelmente, esperando para ver quem seria o corajoso à ir na frente, “experimentar” a trilha . E o corajoso foi o Ivan, que logo se pôs a caminhar sobre ela (veja essa cena no vídeo desta trip)..
Eu estava com tanto medo, mas com tanto medo, que, quando chegou a minha vez, fiquei o tempo todo de cabeça abaixada, olhando para o chão, me concentrando onde eu iria pisar. Olhar para o lado era algo que eu definitivamente não queria fazer.
Felizmente, com poucos passos dados, pude perceber a trilha se alargando. Não ficou tão larga quanto eu gostaria, mas já não oferecia o perigo todo do seu início. Ufaaaa…
Durante a descida, avistamos, longe, duas grandes lagoas, encontrando, algum tempo depois, com uma placa indicando uma área de Camping à esquerda, chamada Jampa.
Descemos a pequena encosta que levava até o Acampamento e finalmente, as 13:50, chegamos ao nosso destino do dia, ou melhor, naquele que achávamos ser o nosso destino.
O acampamento Jampa possuía um banheiro (buraco no chão cercado por uma estrutura em madeira) e uma mina de onde brotava água, formando uma pequena poça. Meio estranha a água dali, mas com jeitinho, dava para pegar água limpa.
Assim que colocamos nossos pés lá, caímos no gramado, exauridos. Esse foi mais um passo de montanha bem puxado, apesar de a subida não ter sido tão íngreme quanto a dos outros.
Devidamente descansados, montamos o acampamento, jantamos, mesmo sobre o forte sol que ainda fazia, e ficamos aguardando o Flávio, que nós guiaria no Nevado Campa. Lembro de ter comido bastante neste dia. Queria ficar bem forte para a encarar a subida dele no dia seguinte.
Pouco depois do nosso jantar, o Flávio apareceu, informando que estávamos no acampamento errado. Como já passava, e muito, do horário em que combinamos o nosso encontro, ele imaginou que tínhamos ido para o acampamento errado, e foi atrás de nós, com a sua mula.
“Como assim errado? A placa está dizendo que aqui é o Acampamento Jampa?” falamos . Ele disse que estávamos certos. Ali era o acampamento Jampa, mas o acampamento BASE jampa, ficava mais para cima, à 1 hora dali, na descida do Passo. “E agora?”, pensamos. Já estávamos com o acampamento montado, e mortos de cansaço. Não estávamos em condições de enfrentar mais subida naquele dia.
Perguntamos ao guia então se podíamos dormir ali mesmo e ele disse que sim, mas informou que a subida do nevado Campa ficaria mais puxada, devido ao aumento do percurso.
Logo ele retornou ao acampamento base para buscar suas coisas e desceu para acampar conosco no acampamento Jampa, para nossa surpresa, na companhia de uma mulher e um bebê. Era sua esposa e sua filha.
Achei bem estranho ele levar à família ao serviço, mas logo entendi o motivo: ela trazia uma trouxa cheia de coisas para vender, que ela dizia serem “artesanatos”. Aliás, no local já haviam duas cholas vendendo os seus “artesanatos” também.
Queria muito levar alguma lembrança dali para minha família e amigos. Uma lembrança feita das mãos dos quechuas que lá habitavam; uma lembrança feita no coração das montanhas do Circuito Ausangate, então, não me demorei a escolher algumas coisinhas para eles. Porém, ao voltar para Cusco, tive uma grande decepção, como ao final verão.
Depois de pegarmos com o Flávio os equipamentos (calças e jaquetas reforçadas para frio, botas semi-rígidas, crampons e piolets), enviados pela empresa Andexplora, que também nos disponibilizou o próprio guia, ajeitamos as mochilas de ataque e fomos para as nossas barracas.
Fui dormir ansiosa para que chegasse o dia seguinte logo; o dia em que eu escalaria minha primeira montanha de gelo e neve, em elevada altitude. Já tinha subido uma montanha assim antes, na Patagônia, quando fiz o Passo Marcone, durante a Volta ao Gelo Continental Patagônico Sul, mas nunca tinha feito uma montanha desse tipo no ar rarefeito.
Estava confiante. Sentia-me forte e totalmente aclimatada. Agora era descansar para encarar o grande desafio.
Percorremos 8,5 Km, neste dia, por cerca de 6h30min, enfrentando um passo de montanha, localizado a uma altitude de 5080 metros (Passo Campa), sem encontrar pelo caminho qualquer trecho técnico. Porém passamos por uma estreita trilha, numa encosta muito íngreme, que requeria extrema atenção.
Foi um dia muito difícil, apesar de curto. Resumindo-se a uma grande subida, não tão íngreme quanto as dos outros passos, porém extremamente desgastante. Numa escala de 1 a 5 (1: fácil, 2: moderado, 3: difícil, 4: muito difícil: 5: extremamente difícil), considero de grau 4 a dificuldade deste dia, da forma em que fizemos.
Dia 9 – Acampamento Jampa (4810 m) – Pachanta (4330 m)
Acordamos as 3 horas da manhã, em meio a um frio congelante. Comemos rapidamente alguma coisa para nos dar energia e, as 4:00, demos início à caminhada, rumo ao cume do nevado Campa.
Ao contrário dos dias anteriores, em que sempre acordei bem disposta, neste dia despertei me sentindo muito fraca. No início achei que pudesse ser apenas sono, que no decorrer da caminhada aquilo passaria. Mas não passou. Quanto mais subíamos pior eu me sentia.
Não vendo nenhuma melhora no meu estado e vendo toda a dificuldade que eu estava tendo para subir aquela montanha, apenas carregando uma mochila de ataque leve, informei o pessoal que retornaria ao acampamento, pois estava me sentindo muito mal. Emerson falou: “Que é isso? Não. Você vai com a gente. Me dá a sua mochila, que você vai ficar mais leve e se sentir melhor.”
Acabei aceitando a ajuda e continuei subindo, por cerca de uma hora, praticamente, me arrastando, até tomar a decisão, definitiva, de desistir da escalada. Eu sabia que naquele estado eu não conseguiria caminhar no gelo, muito menos escalar as partes que fossem necessárias. Desisti então, enquanto era tempo; enquanto ainda era possível eu retornar sozinha para o acampamento, sem prejudicar a escalada de ninguém.
Emerson tentou me fazer continuar, dizendo que eu era forte, que eu conseguiria, e, chorando eu disse “Não consigo Emerson. Estou muito fraca.Continuem vocês.”
Emerson disse então que não me deixaria sozinha, que iria voltar comigo. Nessa hora fiquei desesperada. Disse que não; que ele não podia fazer aquilo; que ele estava bem; que não podia desistir por minha causa, mas ele continuou firme na sua decisão. Até hoje eu lembro perfeitamente de suas palavra:
“Você ficou comigo o tempo todo. Me ajudou o tempo todo. Eu vou voltar com você”
Nos abraçamos, nessa hora, e choramos juntos. Não por termos deixado de subir aquela montanha, mas pela grandiosidade daquele momento; por termos nos mantido juntos, durante todo o circuito, sempre apoiando e incentivando um ao outro, nas horas mais difíceis.
Clei e Ivan prosseguiram, então, com a escalada, enquanto Emerson e eu retornamos ao acampamento, onde chegamos após 1 hora de caminhada, encontrando tudo coberto de branco (foto acima). Logo fomos para dentro da barraca, onde caímos no sono.
Quando acordei, já com o sol a pino, e a temperatura mais agradável, fui até a esposa do Flávio perguntar a que horas eles retornariam, a qual me informou que a previsão era as 11:00 horas. Logo depois Emerson acordou e ficamos ali, todos juntos, aproveitando o sol e brincando com a filhinha do Flávio.
Bateu 11:00, bateu 12:00, bateu 13:00 e nada deles aparecerem. Começamos a ficar preocupados. A esposa do Flávio então, nem se fala. Não tirava os olhos da montanha enquanto ninava sua filha nos braços.
Nessa hora uma das pessoas que estava no acampamento veio até nós, saber o que estava acontecendo. Falamos que era para nossos amigos terem retornado da montanha, à mais de duas horas atrás, mas eles ainda não haviam chegado.
O moço então, gentilmente, se dispôs a ir verificar se os avistava, e logo retornou com boas notícias: “eles já estão chegando”. Que alívio.
Com o retorno deles, desmontamos acampamento e demos início à descida até Pachanta, as 14:45, onde ficaríamos no hostel da família do Flávio. Flávio iria para lá também, já que era onde morava, mas partimos antes dele, pois ele tinha uma mula que o levaria mais rápido.
Seguimos a caminhada pela trilha que partia ali mesmo do Acampamento Jampa, conforme indicado pelo Flávio. Não era a trilha do nosso tracklog (que continuava a descida do dia anterior, a partir da placa do acampamento), mas também levaria à Pachanta, segundo ele, que informou, ainda , se tratar de uma trilha mais fácil.
A trilha seguia óbvia por um caminho bem demarcado no chão, em meio a diversas lagoas, que formavam, junto às montanhas que as circundava, uma paisagem estupenda. Sem dúvida alguma um dos lugares mais bonitos do circuito.
Emerson e eu ficamos tão maravilhados com a paisagem da área das lagoas que acabamos nos distraindo tirando fotos. Quando voltamos à caminhada, perdemos a trilha de vista. “Como uma trilha bem demarcada daquela tinha desaparecido, assim, dos nossos olhos?”, pensamos.
Falei, então, ao Emerson que precisávamos encontrar a trilha rápido, pois o sol já estava caindo. E se o sol caísse sem estarmos na trilha novamente, estaríamos perdidos.
Emerson até cogitou de voltarmos para a trilha do nosso tracklog mas analisado o GPS verifiquei que ela estava muito longe dali.
Enquanto procurávamos a trilha, observamos algumas viscachas, pulando em meio as rochas. No mesmo instante, surgiram, do nada, três adolescentes, saltando por cima das mesmas rochas, gritando para a gente “o caminho é por aqui”. Rapidamente nos pomos a seguir os garotos e localizamos a trilha, que, agora, na verdade, se tratava de uma estrada.
Depois disso, os garotos simplesmente desapareceram dos nossos olhos. Da mesma forma que eles chegaram, eles se fora.
Emerson veio até mim e disse que, enquanto procurávamos a trilha, ele estava rezando, pedindo a Deus que nos ajudasse, que nos indicasse o caminho. E esses meninos apareceram, do nada, nos dizendo por onde seguir, sem sequer termos tempo de indagá-los. Emerson disse que eles eram anjos, enviados por Deus, para nos tirar dali. Fiquei muito impressionada com aquilo.
Seguimos, então, caminhada pela estrada até Pachanta, onde chegamos as 17:50, já com pouca luminosidade, encontrando com nossos amigos.
Como o lugar era precário, e eles estavam extremamente esgotados, afinal, além de escalarem o Campa, ainda caminharam por mais 3 horas até Pachanta, decidiram finalizar o circuito ali mesmo. Contrataram, então, um carro para os levar até Tinke, onde poderiam descansar melhor. Emerson e eu ficamos para fechar o circuito.
Nos hospedamos no hostel da família do Flávio e consumimos algumas coisas com eles, a fim de ajudá-los. O lugar não era dos melhores, mas perto do que vínhamos passando, nos últimos dias, dormindo no chão, com o frio da noite entrando por baixo da barraca, aquilo, era um verdadeiro luxo.
Depois de jantarmos a comidinha preparada para nós (sim… eu comi, apesar de continuar com o mesmo receio) caímos no sono dos deuses. Aliás, nos sentíamos exatamente assim, de tão bem tratados que fomos pela família do Flávio.
Caminhamos, neste dia, 9,0 Km, por 3 horas, num trecho sem qualquer dificuldade técnica, não existindo, ainda, qualquer passo de montanha no percurso. Foi apenas uma longa descida, alternada com poucas subidas leves, até o povoado de Pachanta. Numa escala de 1 a 5 (1: fácil, 2: moderado, 3: difícil, 4: muito difícil: 5: extremamente difícil), considero de grau 1 a dificuldade deste dia. No entanto, creio que para os nossos amigos que subiram o Nevado Campa (andaram muito mais e por muito mais tempo) este trecho tenha acabado se tornando mais difícil, devido a exaustão que a escalada da montanha causou.
Dia 10 – Pachanta (4330 m) – Tinke (3800 m) – Cusco (3400m)
Acordei neste dia com barulho de marteladas. Já estava claro, mas o sol ainda não tinha dado as caras. Dei, então, uma espiada lá fora, através da janela de vidro e vi que as águas termais estavam funcionando. Dois homens estavam mergulhados nelas naquele momento.
Queria acordar o Emerson para irmos lá também, mas com o frio que fazia, acabei desistindo da ideia e voltei a me deitar.
Quando o Emerson finalmente acordou, tomamos o nosso café da manhã, compramos umas coisinhas da mãe do Flávio, para ajudar a família, dentre elas as pulseirinhas que ficaram sendo o símbolo da nossa parceria (foto acima), e as 8:30, demos inicio à caminhada do último dia do Circuito Ausangate.
O percurso até Tinki foi percorrido, em sua integralidade, por uma estrada, onde encaramos algumas subidas no início.
Neste trecho cruzamos com várias pessoas pelo caminho, ora em motos, ora em carros, tendo uma delas parado para nos oferecer carona. Agradecemos a gentileza e continuamos com a nossa caminhada.
Caminhávamos extremamente felizes aquele dia, rindo a toa, relembrando todas as grandes experiências que vivemos, todas as paisagens lindas que avistamos.
Foi realmente um circuito muito difícil, mas cada passo, cada respiração ofegante, cada gota de suor derramado, cada momento de frio passado, valeu muitíssimo a pena. Nós só tínhamos a agradecer à Deus e ao grande Apu Ausangate, o deus dos povos quechuas da região.
Em determinado momento, quando estávamos já na grande descida até Tinki, Emerson perguntou se já estava chegando. Peguei meu GP para verificar e, enquanto o analisava, ainda movimento, uma moto surgiu atrás de nós. Cheguei, então, um pouco mais para a beira da estrada e levei o maior escorregão, caindo de bunda no chão, não sem antes, porém, causar um belo estrago no meu bastão, o qual entortou a ponta em L, de tanta força que eu fiz para evitar a queda.
Lembro de ter ficado meio desorientada na hora da queda, como se eu tivesse apagado, e que demorei a me levantar dali, mas tirando a dor no joelho , tudo parecia bem. Eu estava enganada, como verão mais à frente.
Passado o susto, desentortamos o bastão, o quanto conseguimos, e continuamos a descida até Tinki, passando por um povoado chamado Pichimoro, onde fomos abordados por diversas criança pedindo doces.
Disse para as crianças que não tínhamos mais doces, e comecei a dividir o último chokito que me restava na mochila. Porém as crianças não paravam de aparecer. Mais e mais brotavam de dentro das casas, e eu dizendo “Não temos mais. Desculpa, Não temos mais”. Foi difícil dar as costas à elas deixando-as sem o tão desejado doce. 😥
Continuamos, então, com a nossa caminhada, chegando à rua principal de Tinki, as 12:20, fechando, finalmente o Cicuito Ausangate via Vinicunca.
Foi um dia de dificuldade moderado, onde percorremos 12,0 Km, em 4 horas, de uma estrada que seguiu inicialmente com algumas subidas, mas logo se tornou uma grande descida. Numa escala de 1 a 5 (1: fácil, 2: moderado, 3: difícil, 4: muito difícil: 5: extremamente difícil), considero de grau 2 a dificuldade deste dia.
A missão estava cumprida, e com louvor, pois, além de termos conseguido carregar todo o nosso equipamento em elevada altitude, não tivemos grandes problemas com o mal de montanha, já que apenas um dos integrantes do grupo sofreu de mal leve, e em apenas 2 dias.
Se foi tudo perfeito? Não, não foi. É claro que ocorreram desentendimentos, episódios que me deixaram triste e outros que me deixaram brava, mas eu quero guardar comigo apenas os bons momentos. Das lembranças ruins a gente tira alguma lição e depois apaga da memória.
Obrigada Emerson, Ivan e Clei por terem aceito esse desafio. Vocês foram guerreiros. Tenho muito orgulho de todos vocês.
Desafios são o que me movem. E eu sempre estarei a procura deles. Não só pelo fato de gostar de encará-los, mas também para provar, à mim mesma, que o meu problema nunca irá me impedir de fazer nada nessa vida, apesar dos médicos sempre terem dito o contrário.
De Volta a Cusco (3.400m)
Ao retornarmos para Cusco, a primeira coisa que fizemos foi telefonar para as nossas famílias, para avisar que tínhamos terminado o circuito e que estávamos bem.
Depois fomos ao supermercado comprar produtos de higiene, afinal, não tomávamos banho a 9 dias. Meu cabelo parecia que estava com dreds, de tão embrulhado e sujo.
Após o banho, fomos jantar em um restaurante de Cusco chamado La Trattoria, onde comemos tudo o que nos deu vontade . Saímos de lá explodindo de tanto comer e voltamos ao hostel onde caímos no sono, naquela cama macia e quentinha.
Cara, como isso é bom. O primeiro banho, a primeira refeição, a primeira noite de sono, após dias na montanha. A sensação é indescritível. É nessas horas que a gente percebe que está no caminho certo, dando valor às coisas simples da vida, como ter uma, simples cama quentinha para dormir.
Dia dos Souvenirs
Neste dia Emerson e eu fomos atrás das lembrancinhas que faltavam, para levarmos para os nossos familiares e amigos .
Ao entrar no mercado San Pedro, tivemos uma grande decepção. Vimos as mesmas coisas que havíamos comprado, das mulheres quechuaa, durante o circuito, sendo vendidas ali, em larga escala. Nos sentimos enganados. Acreditávamos estar comprando coisas feitas das próprias mãos delas, lá em meio às montanhas, o que as tornavam mais especiais, quando, em realidade, se tratavam de produtos industrializados, que elas vendiam dizendo ser artesanato.
Bom, após nossas comprinhas, fiquei em uma lanhouse tentando passar as fotos do cartão que estava na minha câmera, para o meu pen drive, a fim de devolvê-lo para o Clei, que tinha me emprestado. Não tive sucesso e voltei para o hostel, onde tratei logo de arrumar minha mochila, a fim de deixá-la pronta para a viagem de volta ao Brasil no dia seguinte.
A noite Emerson e eu retornamos ao restaurante Trattoria para jantar. Fomos mais moderados com a comilança, desta vez. 😆 😆
De volta ao hostel, tratamos logo de dormir, ansiosos para retornar ao Brasil e reencontrar nossas famílias.
O Retorno ao Brasil
Neste dia acordei com um incômodo próximo a minha cintura, no lado direito. Acreditava que tinha dormido de mal jeito, no entanto, sentia que a dor piorava a cada tossida que eu dava.
Embarquei de volta ao Brasil e, durante a viagem, a dor foi aumentando mais e mais. Passei a ter que ficar pressionando o local com a mão esquerda , a fim de me dar algum alívio. Cada tossida era um martírio.
Quando cheguei à São Paulo, tive ainda que encarar mais 5 horas de ônibus até minha cidade, onde cheguei e passei dois dias de cama antes de, finalmente, decidir ir procurar um médico no PA, relatando à ele que acreditava estar com algum problema no pulmão, por ter ido para a altitude com uma tosse que me acometia desde o Brasil, a qual piorou durante minha estadia lá.
Fiz, então, um RX do pulmão, o qual acusou que tudo estava dentro da normalidade, tendo o médico me mandado para casa, receitando um remédio para dor, sem sequer saber o que eu tinha.
Não satisfeita, já que, mesmo tomando os remédios receitados, a dor não cessava, marquei uma consulta com um ortopedista, especialista em torax, para o dia mais próximo que consegui (uma semana depois) o qual me pediu um novo RX, agora de arcos costais, vindo a verificar que eu estava com uma costela quebrada, em duas parte, com fratura quase total.
Lembra da queda que tive no último dia de caminhada? Provavelmente foi ali que eu quebrei essa costela. Foi a única queda que eu tive. Agora, a pergunta que não quer calar: Porque não senti nada na hora? Porque só vim começar a sentir dor 2 dias depois? Essa nem o médico soube explicar.
Fiquei 6 meses me recuperando dessa fratura, sem poder fazer qualquer atividade física , nos primeiros 4 meses, tomando um remédio fortíssimo chamado Tramadol que me deixava dopada, mas tirava toda minha dor.
No carnaval de 2017, finalmente, pude colocar novamente a cargueira nas costas e ir para a trilha, testar a costelinha, na Travessia Baependi – Aiuruoca, junto ao Emerson e a outros queridos amigos.